21.11.08

Mercado editoral perde expressão no Porto


00h30m

SÉRGIO ALMEIDA

A deslocalização para Lisboa dos principais serviços da ASA, Gailivro e Novagaia - incorporadas no Grupo Leya - veio acentuar o fenómeno da perda crescente de importância do Porto no panorama editorial português.

Está sediado no Porto o maior grupo editorial nacional - a Porto Editora -, mas os sinais de vitalidade quase se ficam por aí. À excepção da Civilização, grupo que integra as livrarias Leitura e Bulhosa, todas as empresas de grande dimensão do sector têm como sede Lisboa e, mesmo as que são oriundas de outras zonas do país, não abdicam de uma representação fixa na capital.

Foi o que aconteceu com a mais recente divisão editorial da Porto Editora, mas, nesse caso concreto, Vasco Teixeira, presidente do conselho de administração da Porto Editora, adianta que tal decisão se deveu ao local de residência de Manuel Alberto Valente, responsável do departamento ficcional. No entanto, o CEO do grupo não duvida que "a centralização é um problema estrutural que afecta o país e sentimos bastante os seus efeitos".

Os sinais de centralismo galopante avolumam-se: segundo estimativas de vários editores, Lisboa representa neste momento mais de 70% do volume total de vendas; não existe qualquer distribuidora a operar a partir do Porto e a própria delegação regional da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) foi desactivada há vários anos.

Tamanhos indícios levam a que os próprios editores reconheçam a fragilidade do seu mercado de origem. "O Porto e o Norte têm vindo a perder importância. Uma editora de fora de Lisboa tem que trabalhar mais para ter sucesso. Isso implica desgaste", reitera Vasco Teixeira, ao mesmo tempo que confessa não existir uma semana que não contemple uma ida a Lisboa para reuniões várias.

Director-geral da Campo das Letras, Emídio Ribeiro confessa ser "difícil contrariar a lógica dominante", porque "os pontos de decisão vão-se concentrando cada vez mais em Lisboa, como a comercialização e distribuição".

A ligação íntima ao Porto é uma imagem de marca da editora fundada há 14 anos, mas, apesar de confessar orgulho nessas raízes, o responsável admite todos os cenários. "Com o estado actual do mercado editorial ninguém pode assegurar com absoluta certeza o que quer que seja".

As desvantagens entre as duas cidades são várias e não se esgotam no menor poder de compra dos portuenses, até porque "entregar um livro no Porto fica mais caro do que em Lisboa", diz Francisco Madruga. O editor da Calendário, de Gaia, alude também ao poder mediático, grande parte do qual radicado na capital, como outro problema fulcral com que os editores do Porto se debatem.

"Uma editora do Norte que não tenha influência em Lisboa encontra mais dificuldades de implantação", resume.

O director da Afrontamento, José Ribeiro, defende, por seu turno, que "estar no Porto não invalida que se chegue a todo o país", mas reconhece as dificuldades superiores por estar mais afastado dos centros de decisão. "O capital está centralizado em Lisboa em todos os ramos de actividade. É normal que os livros não escapem a essa lógica".

O crescente desequilíbrio entre Lisboa e o resto do país não passa à margem da análise do presidente da APEL, para quem, todavia, "pouco há a fazer" em termos práticos no âmbito da sua acção, exceptuando "a promoção de iniciativas descentralizadoras, como a formação dos associados".

Classificando o actual cenário macrocéfalo no plano editorial como uma extensão do que se passa nas restantes actividades económicas, Rui Beja é da opinião que "não é bom para o país que haja uma cidade que detenha uma percentagem tão elevada do mercado".



in Jornal de Notícias

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1047780

18.11.08

Administração da cidade do Porto

Para quem vive no Porto e se preocupa com a cidade sabe que a fraca cooperação entre os diversos municípios que compõe o espaço urbano tem vindo a prejudicar a qualidade de vida e a competividade na cidade. 

De um ponto de vista arquitectónico e ignorando quaisquer fronteiras administrativas, dir-se-ia que desde o centro da Maia até ao centro do Porto haveria de haver uma ligação urbana eficaz - uma avenida? Poucas são as formas urbanas que se adaptam a ambos os lados das fronteiras administrativas. Não podemos, por isso, elaborar um plano que englobe toda a gente que vive neste aglomerado urbano que seja eficiente e unitário. 

Vejamos o exemplo de Barcelona. É estruturada em umas poucas avenidas de grande capacidade que atravessam todo o aglomerado urbano. O resultado é uma maior eficácia na mobilidade urbana. É evidente.

Outro exemplo: Berlim. É uma cidade bem grande, mas que não nasceu assim. Berlim foi engolindo outras localidades adjacentes como Charlotenburg. O facto é que hoje Berlim é toda ela administrada por uma só câmara, o que resulta numa estrutura  viária, económica, ecológica, etc mais unitária. Berlim não funcionaria se fosse uma manta de retalhos como a do aglomerado urbano do Porto.

Proponho por isso, que se unam as câmaras de Gaia, Porto, Gondomar, Valongo, Maia e Matosinhos. Assim poder-se-ia planear a cidade na sua verdadeira essência. As àreas de expanção seria planeadas pelas mesmas pessoas que planeiam o centro. O sistema de transportes teria em conta a relação entre essas novas áreas com o centro da cidade. A estrutura ecológica (praticamente inexistente no Porto) poder-se-ia resguardar a uma escala significativa e unitária. A relação do aeroporto e porto poderia ser mais complexa e profunda, nomeadamente na distribuição de mercadorias nos diversos centros de consumo e produção e na mobilidade de pessoas para o exterior.

O mesmo se poderia ponderar na situação de Lisboa.

4.11.08

O jornalista Manuel Carvalho escreveu no Público, segunda-feira passada, que o “Primeiro-ministro nada faz de diferente de muitos que o antecederam no cargo, incluindo Cavaco: na oposição foi um fiel devoto da devolução de poderes às regiões; depois de eleito, enche-se de dúvidas e não se compromete.” 
Está tudo dito!

Sempre que saio ao terreiro em defesa da regionalização política e administrativa do país sou apedrejado – apedrejado com cartas – por oradores sagrados adeptos do centralismo enraizado num municipalismo obsoleto e extenuado. Opinantes que, empunhando a sacra fisga, disparam de rajada: o povo já excomungou, rejeitando de cruz, em referendo, a instituição das Regiões Administrativas. 
Uma vez não, não ad perpetuam!

Eu respondo (e lá vou respondendo a todas as cartas) apenas por mim pois não sei, de todo, o que o povo, neste momento, quer. É verdade que o povo recusou, no século passado, em referendo, a regionalização. Pudera. Perguntaram-lhe, manhosamente, se a nova estrada a rasgar deveria estraçalhar a leira das hortas ou a courela de pasto dos animais. O povo, avesso a raios que o partam, recusou a tal nova estrada, manhosamente alcunhada de regionalização, e continuou a andar a pé.
Pior a cura que o mal!

Como escreveu Abílio Ferreira no jornal Expresso a 18 deste mês, a Região Norte – a nossa Região Norte que tampouco Região é – “acolhe a maior fortuna do país (Américo Amorim), o maior conglomerado privado (Sonae), o maior exportador (Qimonda) e lideres sectoriais e mundiais como a RAR, Cin, Sonae Indústria ou Corticeira Amorim” e, não obstante, “a região regista uma perda acelerada de poder de compra, ao ponto de apresentar o rendimento “per capita” mais baixo da União Europeia a 15.“
Que fadário o nosso!

Sei que a regionalização do país não é vacina para todas as maleitas e, menos ainda, árvore das patacas. Todavia, creio de fé e razão, que uma Região Norte com cabeça, tronco e membros haveria de encontrar um caminho para a Linha do Douro – via-férrea estruturante para a Região Norte. Sim, estruturante para a Região Norte. Apesar de o país centralista não enxergar o quanto. Se o Terreiro do Paço enxergasse além da sua sombra – arregalemos o olho – o troço do Pocinho a Barca de Alva em tempo algum teria sido abandonado. 
Mas lá que foi abandonado, foi! 

A Linha do Douro tem que ser uma artéria e não um vaso capilar. É uma via estratégica para fazer circular o sangue por toda uma vasta região, incluindo o Vale do Côa ou o Douro Vinhateiro – Patrimónios da Humanidade. A qualificação de toda a Linha do Douro, assumida como eixo ferroviário fundamental para ligação da grande área metropolitana do Porto, via Barca de Alva, até Salamanca e Valladolid permitindo, a partir daí, o acesso à Europa, é uma questão que, cá para a minha pessoa, só uma Região Norte emancipada é capaz de entender e tomar em mãos.

António Barreto escreveu que “o caso do caminho-de-ferro, do Porto até Barca de Alva e depois prolongado até Espanha, é um projecto de futuro, é um projecto ecologicamente recomendável, culturalmente interessante.” É tudo isto e é, ou deve ser, um traço de união entre o povo nortenho – um desígnio para a Região Norte que está a amanhecer. 
Creiamos!


Jorge Laiginhas
in:
http://www.diariodetrasosmontes.com/cronicas/cronicas.php3?id=943&linkCro=1

Ora aí está mais uma das variadas situações em que um poder suficientemente autónomo e próximo poderia resolver mais eficientemente.